segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Km de Meditação


Peregrinação JMJ Rio 2013


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Barulho de trânsito, seu vizinho discutindo, música alta, a televisão... Aí você se pergunta: “Onde está o botão ‘para tudo que eu quero descer?!’”. Existem momentos em que a única coisa que você precisa é parar. Você certamente sentiu ou sente frequentemente esta necessidade. Pode ser apenas ficar longe da agitação, ou apenas não fazer nada. Na frenética vida dos grandes centros urbanos, algo que seria simples torna-se extremamente complicado. Vivemos tão conectados que o nosso despertador é o celular, ou seja, você já começa o dia recebendo algum input externo. Um amigo comentou isso comigo nesse réveillon e me fez pensar seriamente. Quando eu relaxo, me desligo, ou melhor, quando eu me permito fazer isso? Pare e pense agora na sua vida. Seu dia também começa com o seu celular? Será que isso é certo?! Ok, para a praticidade do dia-a-dia é quase impossível não ser assim. Será mesmo?!
Retirar-se é um período em que você faz um recolhimento, em que você faz uma meditação. Nos últimos 2 anos, pelo menos 5 vezes ao ano, faço um retiro. Esses são os meus momentos de apertar aquele botão que falei no início e ir na contra mão do que é usual. Pratico o ato de pensar e cresço como pessoa. O pensar que comento não é aquele compromissado do tipo, “o que vou fazer hoje?”, “quais as pendências”, não! Este pensar que me refiro é sobre o EU, o que ando fazendo, uma reflexão. Perguntei tempos atrás a um amigo querido que é frei, Paulo Inácio de Bom Fim, o que significava o capuz do traje franciscano. Dizia ele que o ato de pôr o capuz é fechar-se para o mundo e abrir-se para si. São momentos em que consegue-se meditar, fazer minutos de silêncio, rezar.
No dia-a-dia busco mais momentos além desses 5 que vivo intensamente num final de semana. Meu avô materno tem o hábito de todos os dias, muito cedo, levantar e preparar um chimarrão. Tomar chimarrão é algo da cultura gaúcha, passado de geração em geração. Perguntei a ele uma vez, por que acordar tão cedo? Dizia ele que sempre foi assim, desde pequeno, era algo comum ao iniciar o dia. Questionei novamente: “Tu não assiste televisão? Lê um jornal ou assiste um tele jornal?” Raramente ele fazia outra coisa enquanto tomava chimarrão. Era um momento dele, uma forma de iniciar o dia. Depois disso, ele passava ao rádio, jornal ou tele jornal. Pedi então que me ensinasse a preparar um chimarrão e, desde lá, antes de ir trabalhar procuro fazer isso. Ok, tem dias em que só acordo a tempo de vestir uma roupa e sair de casa para não me atrasar. Preciso desse momento para o meu “windows” cerebral iniciar.

Tradição gaúcha, chimarrão!


Quando comecei a correr em 2012, descobri que, ao fazer isso, conseguia chegar nesse mesmo nível de manhã cedo, “pensar vazio”. Normalmente os treinos são momentos em que eu estou só. Começo um processo de meditação, km de meditação! Inicio esse processo ao prestar atenção na minha respiração. Tento equilibrar a atividade cárdio-respiratória e acabo concentrando-me nessa atividade. Quando sinto que achei o ponto, começo a pensar no ritmo que estou impondo ao treino. Tento achar o pace indicado na planilha que o professor passou, sigo em frente. Logo após esse ritual inicial, meu dia começa a passar pela cabeça como numa retrospectiva (normalmente, corro à noite durante a semana). Continuo correndo, km após km. Chega um ponto em que não se tem mais o que pensar, aí vem aquele “pensar vazio” que falava. Passo minutos do treino assim, relaxo a mente enquanto o corpo sofre a estafa do treino. Quando atinjo um ápice de cansaço, o EU, começa aquele processo que comentei no segundo artigo que postei. Aí me condiciono a criar uma meta temporária. Visualizo algo no meu percurso, um prédio distante, uma árvore, algo que em possa mudar o meu foco da dor e do cansaço e consiga seguir até lá, até aquela marca. Cada pessoa tem seu método, é algo particular, mas o mais importante é que faça sentido. Tem pessoas que correm ouvindo música. Eu não consigo, mas se faz sentido e é o gatilho para manter o foco é o que vale.

Manter o foco com a ajuda de um amigo nos meus 1º 21km
  
Foco é o fator predominante de tudo o que falei até este ponto. Seja fazer um retiro, seja acordar cedo e tomar chimarrão, seja correr. Dizia o presidente da empresa que trabalho: “manter o foco é o ato de dizer não às centenas de outras coisas”. Ele tem razão, pense nisso por um instante. Quantas coisas tentam interromper uma atividade que você precisa dedicar a atenção? Enquanto corro, tudo pode tirar o foco, por isso que, quando estou no ápice do cansaço, criei esse mecanismo de pequenas metas temporárias renováveis a cada vez que as alcanço. Meu cérebro condiciona todos os esforços para atingir aquilo. Não importa qual uso que você fará, mas essa ferramenta te levará a fazer muitas coisas, a percorrer muitos km. Te fará por vezes pensar, ou apenas não fazer nada. Procure a sua forma e vá em frente!

Até a próxima semana!

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